Aberrações monstruosas são um patrimônio cultural do cinema. De ataques de formigas gigantes radioativas até o Godzilla, o fascínio pelo caos e destruição conquista e amedronta o público há anos.

Nessa obsessão toda, o tubarão parece reinar como a figura definitiva do cinema de monstro, cuja ameaça e presença criam material para situações aterrorizantes desde quando Steven Spielberg demonstrou esse potencial em ação em 1975. É por isso que Megatubarão, onde o nome por si só já vende a ideia, parece perfeito no papel. O problema é levar isso para a realidade.

Baseado no livro de Steve Alten, a trama acompanha Jonas Taylor (Jason Statham), um ex-mergulhador da Marinha forçado a retomar sua função para realizar um arriscado resgate nas Fossas das Marianas. Durante a operação, Taylor e toda a equipe de pesquisa da base Mana One descobrem a existência de um Megalodon, um pré-histórico tubarão gigante com quase 30 metros de largura.

Conceitualmente não há erro: Jason Statham versus Tubarão Gigante é o bastante para emplacar um projeto em Hollywood e entregar um blockbuster divertido, certo? Não é bem assim. Uma série de decisões questionáveis ofuscam o que poderia ser um memorável filme pipoca.

Ainda que a premissa seja clara, o longa tira seus momentos iniciais para estabelecer Taylor como um homem amargurado pelos erros de seu passado, quando participou de uma operação onde um surto de pânico resultou na morte de oito pessoas. A história constantemente coloca isso como um ponto importante, mas raramente dá resultados ou sequer cria conflitos na hora de combater a criatura. É uma tentativa de humanizar algo que, dada a natureza da história, poderia muito bem funcionar sem.

O que ajuda o personagem a se manter durante toda a narrativa é a atuação de Statham. É bom ressaltar: não é nada fora do comum, e o ator está até mais contido do que o costume, mas o britânico dá à Taylor charme e brutalidade que criam presença na tela. Um exemplo disso são as interações que têm com a doutora Suyin (Bingbing Li) e sua filha. São momentos mais humanos do que os supostos traumas do protagonista ou as despedidas dramáticas dos personagens secundários.

E quanto ao tubarão? Infelizmente, nem a estrela do filme é boa o bastante – muito pela forma como é mostrada. Durante toda as cenas onde os pesquisadores exploram o fundo do mar, a direção de Jon Turteltaub (A Lenda do Tesouro Perdido) faz uso de planos mais intimistas e sufocantes para passar um efeito de isolamento em meio à imensidão do oceano. As coisas mudam quando a criatura aparece e a produção investe em enquadramentos abertos que falham em passar a escala do tubarão.

Seu potencial destrutivo também deixa a desejar. Com tantos anos do cinema mainstream e produções trash do gênero testando os limites do absurdo, o longa aposta em mortes pouco inventivas e decepcionantes, como os personagens escapando das mordidas sem muito esforço ou, no pior dos casos, apenas sumindo na boca da criatura. Na tentativa de criar tensão, são usados diversos “sustos” artificiais e previsíveis ao invés do caos causado por um monstro pré-histórico. No fim das contas, é surpreendente como um tubarão gigante consegue ser antagonista de uma aventura tão mansa.

Acontece que não se trata de uma premissa fácil para abordar no cinema mainstream – cineastas de peso como Guillermo del Toro e Eli Rothdescobriram isso só após ter o projeto nas mãos. Mesmo assim, Megatubarão comete os piores erros para um filme do tipo: ser pouco inventivo e se levar a sério até demais. É um raro caso onde diálogos cafonas, mais sangue e consciência do ridículo dariam em algo com mais alma. O que foi entregue parece mais um produto de fábrica absurdo o bastante para ser um filme B de respeito, mas seguro e indiferente demais para ser um blockbuster memorável.

Arthur Eloi

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