Foi com uma energia diferente do show de 2009 que o Radiohead voltou a se apresentar em São Paulo neste domingo. Se há oito anos a Chácara do Jockey assistiu a uma apresentação marcada pela tensão e pela expectativa, e que transcorreu mais como uma missa do que como um evento de arena, o show de ontem no Allianz Parque foi ajudado pela acústica do estádio (bem mais “intimista” que a chácara aberta) e por uma banda mais à vontade, que consequentemente encontrou um público disposto a cantar junto e não só a prestar reverência à banda.

O vocalista Thom Yorke, particularmente, que às vezes se coloca introspectivo diante da plateia, se mostrou bastante animado, e quando o baixista Colin Greenwood pediu palmas ao público durante “15 Step” – primeira faixa a levantar a galera, depois de duas canções do álbum A Moon Shaped Pool que abriram o show – começou a ficar claro que o Radiohead veio disposto a entreter e se divertir. Por mais que o compasso das batidas quebradas de “15 Step” não deixe tanto o público acompanhar nas palmas, o que valeu foi o gesto.

O único senão desse princípio de apresentação foi o som no Allianz, que começou baixo mesmo para quem estava na pista premium. Levou umas seis ou sete faixas para que o volume subisse, e as caixas rateavam um pouco para aguentar o som, que nem estava tão alto assim. Do palco, porém, a energia não deixou de seguir um crescendo; as firulas audiovisuais (a câmera nos olhos de Yorke ao piano, a projeção em mosaico com imagens-detalhes dos músicos) eram só um complemento, e o que ditou o show foi a presença de palco do vocalista e a animação de Greenwood e do guitarrista Ed O’Brien, visivelmente contente com sua camisa da seleção brasileira.

Embora a base do show seja muito similar à daquele na Chácara do Jockey – canções de OK ComputerKid A e In Rainbows se enfileiram bem sem tornar a apresentação uma ordenação burocrática de hits – a impressão deixada ontem é de que o Radiohead acabou com a mítica de ser uma banda difícil, de câmara. Nas baladas como “All I Need” e “Let Down”, ou nas faixas mais agitadas, como “Everything in its Right Place” (que veio numa batida mais dançante), o som é recebido com coro pelo público e a banda agradece, energizada. O resultado é uma apresentação sofisticada, mas popular.

Yorke dançou, agitou os braços ao mesmo tempo pedindo e agradecendo as palmas, e serpenteou, como se a música fluisse por ele na batida, principalmente em “Idioteque” – ponto alto do show antes dos dois bis. Em algumas faixas, a performance se aproxima mais do registro de estúdio – como em “Exit Music (For a Film)”, quando Yorke mostra fôlego e alcance vocal – e em outras ele leva a música como um lamento, como em “Paranoid Android”, cantada com as notas esticadas, com a voz frágil, sentida.

É curioso notar que um show como o do Radiohead – em que a banda visivelmente prima pela capacidade, pela constância – às vezes muda bastante só no detalhe, só numa postura um pouco diferente. E ontem Thom Yorke foi o canal dessa mudança; o vocalista estava presente de verdade, pareceu se divertir, e foi o bastante para tornar a noite melhor.

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