Movimentos sociais do Litoral gaúcho se unem para realização do II Encontro Ecológico em Capão da Canoa
O II Encontro Ecológico é uma iniciativa do Som Solidário em parceria com Movimento Unificado em Defesa do Litoral Norte
Foi em 2021 que uma banda de músicos, precisando de um lugar para ensaiar, fundou um festival que passou a movimentar a cena cultural alternativa de Capão da Canoa e do Litoral Norte gaúcho: O Som Solidário, grupo de amigos que, descobrindo que podiam usar a música para disseminar conhecimento acerca da temática socioambiental na região, começou a apresentar seu projeto de sons autorais em espaços públicos, conquistando um público assíduo que passou a colaborar na realização dos eventos produzidos pelos seus integrantes.
De 2021 pra cá, o Som Solidário se consolidou enquanto movimento que promove a cultura e a partilha do conhecimento sobre a preservação da fauna e da flora do ecossistema litorâneo. O que, no começo era apenas uma banda procurando um espaço para tocar suas músicas, transformou-se em um movimento popular organizado que até o momento já promoveu 17 edições do festival multicultural.
O evento passou a contar com a participação de diversas entidades ambientais do litoral, como o Farol das Baleias, do Grupo de Estudos em Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars) e o projeto Botos da Barra, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O Som Solidário, ao longo de sua existência, arrecadou e distribuiu 3 toneladas de alimentos para comunidades em situação de vulnerabilidade do litoral gaúcho e espalhou a chama da esperança em uma vida que pode ser plena, alicerçada na convivência respeitosa com o meio ambiente, para milhares de pessoas que já passaram pelo evento.
Foi através da corrente de solidariedade formada que os integrantes estabeleceram meios de atuação coletiva com diversas comunidades do litoral, como a ocupação Vale Verde de Capão da Canoa e as aldeias indígenas Yy Rupá, de Terra de Areia, e Sol Nascente, de Osório. Vínculos estes que se ampliaram até a formação da parceria com o Movimento Unificado em Defesa do Litoral do Rio Grande do Sul, popularmente conhecido como MOV.
O MOV, por sua vez, é um movimento fundado através da união de diversas pessoas, entidades e coletivos engajados na causa socioambiental do Litoral Norte gaúcho. Desde sua criação no início de 2024, o movimento vem se inteirando de diversas pautas importantes paras as comunidades da região. Um dos temas centrais da luta é o alerta gerado pelo início da construção de uma encanação que pretende levar os efluentes tratados de esgoto doméstico dos condomínios de luxo de Capão da Canoa e Xangri-lá para dentro do Rio Tramandaí, em uma localidade próxima a uma aldeia indígena e à moradia de pescadores e comunidades vulneráveis da região, em um claro ato de racismo ambiental praticado pelo setor imobiliário destes dois municípios. Infelizmente as obras já estão avançadas.
Diante dessa situação, o MOV se propõe a ser, além de um ato contínuo de resistência, uma reflexão sobre o modelo de desenvolvimento adotado no litoral gaúcho, pois este não contempla as reais necessidades de seus moradores e não leva em conta a fragilidade do ecossistema local diante de empreendimentos tão invasivos ao meio ambiente. Esta manifestação em defesa da vida já nasceu dando passos largos, promovendo encontros e atos públicos, aparentemente pela grande vontade das pessoas que estão ingressando agora na luta socioambiental, aliada a vasta experiência que alguns integrantes possuem nas causas coletivas.
O MOV, em seu ato de fundação, conseguiu juntar alunos, professores, pesquisadores, indígenas, quilombolas, moradores de ocupação, artistas, ativistas, agricultores, engenheiros, advogados, profissionais da saúde, trabalhadores das mais diversas áreas, pessoas que sentiram o apelo genuíno de se levantar e defender o nosso bem comum que é o ecossistema litorâneo gaúcho, único e perfeito em sua essência puramente simples de existir.
O II Encontro Ecológico é uma iniciativa do Som Solidário em parceria com o Movimento Unificado em Defesa do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. O Encontro Ecológico se propõe a ser um evento colaborativo com o propósito de exaltar a vida e a cultura do Litoral Gaúcho, suas praias, lagoas, paisagens e relevos, através da arte, música, cultura e ciência. Neste dia, estaremos juntos na Praça do Farol, em Capão da Canoa, para defender nosso ecossistema, hoje fragilizado pela especulação imobiliária e crescimento desordenado dos centros urbanos.
Acreditamos que o litoral pode crescer e se desenvolver de forma saudável, horizontal e humana e, por esse motivo, apostamos no conhecimento, na ciência e na sua propagação através da arte e da ocupação dos espaços públicos, buscando assim sensibilizar a comunidade como um todo. Enquanto uma solução razoável para o esgotamento do sistema de saneamento de esgoto no litoral gaúcho não for adotada, estará no centro do debate a questão da canalização de esgoto que está sendo construída para se despejar efluentes dos condomínios de luxo de Capão da Canoa e Xangri-lá na Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí.
Que tal refletirmos juntos quais outras opções nós temos à disposição para se evitar a degradação de nosso meio ambiente? Durante o dia, teremos uma programação com bandas, oficinas e palestras voltadas para a conscientização ambiental. Será um importante momento de encontros e articulação em defesa do litoral gaúcho. Convidamos você, para também fazer parte deste movimento. Vamos fazer deste encontro uma grande manifestação em defesa da Vida!
O MOV estará presente em três eventos ao longo do mês de junho, confira:
Cine Salinha – 17 de junho
Exibição do documentário “Pesca do Boto” às 19h
Local: Casa ColArte, Avenida Atlântica, nº 1935, Centro – Tramandaí
II Encontro Ecológico – 23 de junho
Praça do Farol – Capão da Canoa
Das 10h às 18h
21ª Feira da Biodiversidade – 26 de junho
Salão Paroquial – Três Cachoeiras
Das 9h às 17h
* Tiago Dominguez é músico e médico veterinário, morador de Capão da Canoa.