“Sou da época em que DJ era status zero”, afirma o criador do funk carioca, que iniciou no cenário musical em 1977

DJ Marlboro é um dos principais nomes
do funk brasileiro (Foto: Arquivo Pessoal)

O nome artístico é DJ Marlboro, mas pode chamar de pai do funk carioca. Com 14 anos, Fernando Luís Mattos começou a discotecar, ainda amador. Aos 17, profissionalizou-se. Nove anos mais tarde, lançou o CD que é tido como o início do gênero musical brasileiro, “Funk Brasil 1989”.

Décadas se passaram, e o DJ Marlboro segue na ativa, como empresário, produtor, apresentador, compositor e, claro, DJ. É um dos nomes mais conhecidos do funk brasileiro. E o responsável por levar o nosso gênero para o exterior. Ele já discotecou na Espanha, na Polônia, na Alemanha, na Itália, na Inglaterra, e tem shows já marcados para 2017 nos Emirados Árabes, Japão, Suíça, Estados Unidos, Canadá, dentre outros.

Em fevereiro de 2017, voltará ao palco do Planeta Atlântida (confira o line-up). Passaram-se 11 anos desde que o DJ Marlboro se apresentou na primeira e única vez até então no Planeta. Foi em 2006, no palco principal, a primeira apresentação de funk do festival.

Entre os compromissos profissionais, Marlboro ainda administra um projeto social, chamado Instituto Funkeou, que dá aulas de DJ para moradores de comunidades no Rio de Janeiro. Cerca de 700 pessoas já se formaram desde o começo do ano, quando o projeto começou, em locais como Comendador Soares, Miguel Couto e Parque das Palmeiras, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Confira 5 perguntas para o DJ Marlboro:

Tu é um dos principais responsáveis por levar e popularizar o funk para fora do Rio de Janeiro. Hoje, o gênero é um enorme sucesso em todo o país e no exterior. O que tu avalia de evolução nesse período todo?

Muita coisa mudou. Trocamos muita ideia de várias áreas diferentes. Isso ajuda muito no diálogo, nas direções a tomar. Temos conversas de horas sobre as evoluções, sobre os malefícios e os benefícios do funk.

O funk é uma constante evolução. A cada três meses, quase que se renova todo o cenário musical. Enquanto houver rotatividade, isso é bom. O que faz um gênero ficar fraco é não ter renovação.

O funk é música do cotidiano, do dia a dia. Os temas, a maneira de cantar, se mistura muito com outras culturas. O funk faz uma fusão de culturas, com o batidão. Tem música que tem até elementos de tango.

Em 2016 ainda tem muita gente que critica o funk, fala mal do funk, simplesmente por ser um ritmo da periferia. Como um dos grandes criadores do funk carioca, o que tu vê no funk enquanto movimento social, como representação das favelas e das periferias e como forma de expressão dessa população?

O preconceito existe, infelizmente. É o que digo sempre, o funk é um dos movimentos mais preconceituados, mas menos preconceituoso. O funk dá oportunidade. No funk, não existe beleza, não existe exigências. Fosse isso, não existiria Lacraia, por exemplo. Se precisasse ser bonito, Tati Quebra-Barraco não estaria aí, estourando. Artista pop é que precisa ser bonitão, estar sempre bem arrumado. Funk, não. Funk pode cantar de qualquer maneira. O que vale é a ideia, a atitude. Isso é mais importante que a aparência e a performance vocal.

Existe um desgoverno muito grande dentro das favelas. Os órgãos públicos, quando têm, é para matar, para prender, para pegar dinheiro, para achacar. Garotos e adolescentes que estão na favela e querem oportunidade, é muito difícil. Só de morar na favela, a polícia já dá dura o tempo todo. Esse jovem passa por uma barra fudida. Estão sempre querendo envolver ele com o tráfico.

Além das dificuldades normais de quem mora na favela, de comer, de se vestir, o jovem tabém quer consumir. Ele assiste televisão e vê propaganda de um tênis super maneiro, que custa um preço muito fora da realidade dele. E o tráfico está ali, oferecendo isso a ele…

Existem duas possibilidades para esse jovem sair da favela: pelo esporte ou pela música. Fora isso, é muito difícil. Precisa estudar, precisa sair da favela, e, assim, corre risco o tempo inteiro. O esporte é muito difícil, é seletivo. Muito poucos dão certo.

O funk dá oportunidade para as pessoas mais carentes. Preenche o vácuo entre o estudo e a idade avançada. Se já tiver lá com seus 30 anos, com o esporte não pode mais ser. Com o funk, ele vai conseguir se sustentar. É a esperança de um amanhã.

A favela precisa de projeto social, senão não funciona. Não adianta colocar UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) e não ter um projeto de desenvolvimento social. Precisa encurtar esse caminho, da favela e a música e o esporte.

Tu tem um projeto social, que é o Instituto Funkeou. Como ele funciona? Por que decidiu começar ele?

Montamos um ônibus e estamos nas comuniades dando aulas de DJ. São quatro módulos. O primeiro, mais básico, ensina a mexer no equipamento, a fazer mixagem. O segundo é de produção musical. O terceiro e o quarto vão avançando mais. Cada módulo tem duração de um mês. Formamos cerca de 100 pessoas por mês, são 25 alunos por turno – fazemos quatro turnos diários.

Ao final do curso, fazemos a formatura. Selecionamos os quatro melhores alunos para uma competição. Fazemos um baile. Premiamos os dois melhores.

Já formamos mais de 700 alunos. Começamos o projeto no início de 2016.

Instituto Funkeou dá curso de DJ para moradores de comunidades no RJ (Foto: Arquivo Pessoal)

Atualmente, tu está mais focado em empresariar, em criar novas músicas, novas parcerias, em tocar o projeto social, em fazer shows…?

Estou produzindo muita coisa. Tenho dois projetos em andamento. O primeiro é o Funk Brasil Relíquias, que terá nove discos. Os três primeiros CDs serão músicas originais clássicas do funk (anos 90 e início dos 2000) remasterizadas – porque a qualidade de antigamente não era muito boa. Serão 16 músicas, de 16 artistas, em cada CD.

Os CDs 4, 5 e 6 serão essas mesmas músicas, mas remixadas com batidas atuais. Os três últimos serão músicas novas e inéditas desses artistas. Queremos reativar essa galera, dar incentivo, reanimar. Mostrar que o funk é muito mais do que o que tem hoje.

O segundo projeto se chama “Tem Mamonas no Funk”. Chamamos alguns artistas de humor do funk, como o Mc Serginho, o Mc Créu, o SD Boys (Bonecão do Posto) e regravamos as músicas do Mamonas Assassinas no ritmo do funk. Vamos começar a lançar esses dois projetos em janeiro de 2017.

Tu volta ao Planeta Atlântida depois de 10 anos. O que pra ti significa tocar em um festival de grande porte e em um lugar longe do Rio de Janeiro, onde o funk é mais forte?

Eu acho isso fenomenal, muito legal. Eu já toquei em inúmeros festivais. Pelo Brasil e no mundo. Em Barcelona, na Polônia, na Alemanha, na Itália, na Inglaterra… Vou tocar em Dubai, no Japão ano que vem…

Tenho uma trajetória que é difícil de manter. Já se passaram umas quatro gerações. Não tem DJ no Brasil, no mundo, que tenha o mesmo tempo de profissão quanto eu. Quem é DJ de 1977 que está trabalhando no mercado até hoje? Produzindo, lançando música…? Hoje, DJ tem status, é legal ser DJ. Tem famoso querendo ser DJ pra ter mais status. Eu sou da época em que DJ era status zero. Era movido só por amor à música mesmo.

Entrevista: Jessica Mello/Gshow

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